Tenho andado por aí de blog em blogs a observar a vidinha da malta.
(e com pouca paciência para continuar com esta conversa com os meus botões...).
É giro o que se vê para além desta janela!
Um mundo de Gente!
Para todos os gostos. Para todos os feitios.
Com verbe para dar e vender. Sem verbe que preste.
Alegres.Tristes. Acusatórios. Deprimentes. Falaciosos. Incisivos. Preocupados. Chatos. Porreiros.
Enfim, Gente!
E, de repente, dou comigo a pensar (sabe-se lá porquê!) no Pessoa e no seu "Poema em linha recta". Em linha recta de facto. Um poema que fala (finalmente!) de Gente verdadeira.
'Ganda porra, Quim!
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"Nunca conheci quem tivesse levado porrada
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas
vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para
tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes
das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e
arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo
ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de
fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedindo
emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho
agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas
ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na
vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma
vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem
titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."
Esta "janela" aberta ao mundo é mesmo um "Poema em linha recta"!
O Fernando é que sabia!